segunda-feira, 28 de março de 2011

Os cem anos de solidão dos Buendía.



Cem anos de solidão é uma obra prima que se encontra entre os livros latino-americanos mais lidos no mundo inteiro, caracteriza em mais de trezentas páginas, o realismo fantástico estilizado a sua maneira pelo colombiano Gabriel García Marquez. Entre ciganos que possuem tapetes mágicos e mulheres maravilhosas que sobem aos céus virando anjos nus, o escritor conta a história dos Buendía e a cidadela de Macondo onde a vida solitária dos personagens e os acontecimentos inusitados, traçam o seu começo e fim junto a estirpe que movimenta os capítulos da narrativa.
Em muitas sínteses e críticas lidas relacionadas ao livro de Marquez, informa-se que é necessário o acompanhamento traçado da árvore genealógica da família Buendía, para que não se confundam os inúmeros Aurelianos e Arcadios, que nascem e morrem num ciclo constante de repetições que caracteriza a obra e o seu título.
Entre os personagens bem construídos e peculiares, é possível identificar como o escritor mergulha na solidão e característica de cada geração e de cada filho gerado pelo amor e paixão desenfreados dos Buendía, entre capítulos distantes, o autor retorna a gerações anteriores sem perder de vista detalhes escritos antes e que não se perdem entre a repetição de personagens e nomes.
Nas universidades e meios literários sempre é colocada em pauta a posição política de uma obra, em Cem anos de Solidão, as posições liberais e conservadoras são colocadas com simplicidade, não obstante no decorrer da Guerra sem vitórias feita pelo Coronel Aureliano Buendía, nota-se a admiração do autor pela posição liberal e de luta de classes que o personagem da segunda geração da família carrega durante muitos anos e capítulos da obra. O autor despeja com lindas palavras no texto, a vida inteira de um homem que lutou em 32 guerras sem vitórias, por uma situação melhor de vida aos trabalhadores de Macondo.
Marquez define as posições políticas que tomam metade da obra e caracterizam em muitos momentos a vida da cidade no auge de seu desenvolvimento, no seguinte trecho, em que o sogro do Coronel Aureliano diz :
Os liberais, dizia, eram maçons; gente de má índole, partidária de enforcar os padres, de instituir o casamento civil e o divórcio, de reconhecer iguais direitos aos filhos naturais e aos legítimos, e de despedaçar o país num sistema federal que despojaria de poderes a autoridade suprema. Os conservadores, ao contrário, que tinha recebido o poder diretamente de Deus, pugnavam pela estabilidade da ordem pública e pela moral familiar; eram os defensores da fé de Cristo, do princípio da autoridade, e não estavam dispostos a permitir que o país fosse esquartejado em entidades autônomas. (MARQUEZ, 1967 p.88)
Inúmeros personagens definidos como liberais ao longo da história, gritam a liberdade e a luta armada para defender os direitos de liberdade e trabalho, homens estes que morrem fuzilados diante de muros e são condenados a uma morte jovem e sem reconhecimentos.
Nesse livro, que tornou o nome do escritor colombiano como um dos escritores mais respeitados universalmente, temos contato com uma construção de pessoas ousadas como Amaranta Úrsula, última geração da família, que se apaixona por seu tio e vivem a última história de amor da obra, onde finalmente seria gerado um filho Buendía com rabo entre as pernas, medo que aterrorizava Úrsula, a mãe de todas as gerações dos Buendía, que viveu  mais de 100 anos e imortalizou nas linhas da obra a figura de uma mulher líder, forte, cega e independente.
A loucura e a insanidade são características pertinentes neste livro, desde a primeira geração onde José Arcadio Buendía junto aos ciganos que chegavam a Macondo, tentavam descobrir a forma da Terra, a ciência não definida até que ficassem loucos, ou melhor dizendo ensimesmados em um mundo de pesquisas  e informações jamais visto naquele povoado.
As características do realismo fantástico de Gabriel Garcia Marquez, torma o texto cada vez mais real, o leitor não se assusta ou incomoda com espíritos convivendo normalmente com os vivos, ou objetos que se movimentam sozinhos afim de deixarem loucos seus donos, atitudes surreais como essas tornam o texto mais apaixonante e rico em detalhes e não cômico como a primeira vista se pode presumir.
A leitura de relatos de uma família grande e solitária me faz pensar que convivemos com um sentido de solidão um tanto quanto destorcido, aqui a solidão é sinônimo de recusa por amor, de silêncio por outros tipos de amor como a leitura e o conhecimento, a solidão voluntária pela morte de um grande amor jovem ou por não suportar uma velhice acompanhada. Os personagens do escritor colombiano, assim como a estudante de letras que aqui vos singelamente informa, tratam a solidão como uma forma mor de aprender o que é a verdade de um grande amor ou de um grande feito.
Como ouvi na última aula de critica literária, A LITERATURA EXISTE PARA CRIAR ALGO  NOVO NO LEITOR E NÃO PARA SER RE-LIDA OU RE-ESCRITA.  Vivemos talvez a geração que menos convive com a solidão, por medo, por insegurança ou até por necessidade exacerbada da aprovação do outro e de reconhecimento, o que nega a tão repetida característica do “ensimesmar” nos ensinada pelo escritor aqui explorado.
Cien años de Soledad, buena lectura !!!!
Texto por Monique Lemos.


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