sábado, 4 de junho de 2011

Pra mim,

          A melhor parte de uma longa viagem, independente de seu destino, é quando se volta pra casa. É quando se volta pra sua família, pros seus amigos, pra suas maritacas que te atazanam diariamente pouco antes de acordar, pra sua rua esburacada, pro seu circular que sempre atrasa quando não deve, pro seu vizinho gente boa que há anos compartilha quase a mesma rotina que a sua, pra vizinha gostosa que nunca dura mais que seis meses morando ali. Você volta pra sua vida e pro seu mundo. Parece essas frases clichês de comercial de cartão de crédito, então vamos tentar de novo: a melhor parte de uma longa viagem eu jamais tentaria explicar. As sensações são únicas e subjetivas, cada um com a sua. Huxley em seu ensaio sobre a mescalina, que também trata de uma viagem, teve o cuidado logo no começo de seu trabalho em dizer que uma experiência sensorial não se explica. Platão, Aristóteles, Plotino, Santo Tomás, Adorno, e mais um tanto, desenvolveram teorias para tentar verbalizar as sensações humanas, principalmente diante de uma obra de arte, o que não deixa de ser outro tipo de viagem.
           Mas do caso a que me refiro, poderia até dizer que a viagem de volta à minha cidade foi pra prestigiar o casamento de um grande amigo, ou para reencontrar minha namorada, ou abraçar meus pais e meus irmãos, sentir o cheiro do café e do bolo de chocolate quente ainda no forno na casa da mamãe, ir ao batizado de meus priminhos e rever a todos que amo e não via há meses. Quase todo mundo sabe do que estou falando ou o que estou sentindo. Temos quase todos, referências parecidas. Porque são maravilhosamente comuns. Por isso que eu acho importante uma banda como o PUMU. Por isso acho legal ter encontrado nessa breve volta minha a Pouso Alegre um som como o da americana Audrey Chen que, apesar de não ter prestado muita atenção no som dos caras do PUMU segundo o que ela mesma me disse, traz mais uma referencia estranha para quem teve o interesse de ir ver. É legal ser estranho, romper os padrões, perder o medo do novo e do desconhecido, provar antes de rejeitar, se dedicar um pouco antes de desistir. 
          O som da americana quase faz os caras do esplanada parecerem comum. E se o som do PUMU já nos soa quase comum, é um bom sinal de que caminhamos rumo a um desconhecido infinito, ou eterno, sei lá o que caberia melhor. Caminhamos! Hoje é na música, que talvez seja o meio mais fácil de perceber, já que escutamos música todos os dias. Amanhã pode ser no teatro, nas artes plásticas, no cinema, ou numa vídeo-instalação, como o Rafael Brandão está se propondo a fazer, ou na tentativa de qualquer outro artista de Pouso Alegre. Daqui a pouco estará nas escolhas diárias das pessoas todas, ao ir trabalhar de bicicleta ou a pé e deixar o carro na garagem pro transito ficar menos infernal (e aproveitar para encontrar com as pessoas pelas ruas e cumprimentá-las, já que todos se conhecem), ao fechar seu negocio depois do almoço pra você e os funcionários poderem dar aquela cochiladinha e acordarem mais felizes e dispostos para as obrigações diárias, ao fazer amigos diferentes de você, acabando com os preconceitos, libertando a alma de cada um, mostrando que a vida pode ser vivida de mil possibilidades, com mil pessoas, em mil lugares. Mil vidas em uma só, mesmo se você viver no mesmo lugar de sempre. Sem medo de errar, sem medo de ser julgado, sem medo de ser diferente do outro, sem medo! Cultura não é só deleite





Texto e imagens: Danilo

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Olhares do Subúrbio

Agumas vezes já me perguntaram: o que faço quando me sinto sozinha? A resposta é muito clara: vou ver coisas bonitas! E neste domingo onde o céu de Buenos Aires só mandava cores cinzas e ventos que cortavam o rosto e mãos, fui ao encontro de Robert Doineau.

Francês, humanista e com um senso de humor magnífico, o fotógrafo dedicou a vida a buscar nos subúrbios da badalada Paris, os olhares mais inusitados, os beijos mais bonitos, os seios menos vistos e as bocas desdentadas com os sorrisos mais sinceros.

Passei quase 3 horas nos corredores brancos do Centro Cultural Recoleta, me sentava, levantava, olhava algumas pessoas e principalmente os casais e pensava, porque todo mundo esta aqui?
O que procuram as pessoas nas fotografias em preto e branco de um artista que eles não sabiam da existência? Cheguei a conclusão que estão todos como eu, buscando um sentido nas imagens, um engrandecimento da alma.
Pra mim, sorrir sozinha ao longo de um corredor com 137 fotos de desconhecidos como nós, foi um divisor de águas na crítica que faço a mim mesma todos os dias. Que discurso eu represento?

Não sei! Mas ontem ao ver as imagens que compartilho com vocês percebi que em Buenos Aires, no Timor Leste, em Pouso Alegre, em qualquer lugar que haja vida, todo mundo só quer é existir, reproduzindo discursos ou não, sendo esteriótipos ou não.

As fotos de Doisneau para mim foi o dia 01 dos 100 dias que me proponho a compartilhar com vocês. Em 100 dias de vazio, tornarei a produção artística, minha mais fiel companheira não porque quero ser cult ou uma mulher interessante, mas sim, porque no vazio e nas indefinições que a vida me causa, só creio estar na arte, uma fuga produtiva ao receptor.

Críticas ao alto, julgamentos abertos, também somos o que perdemos!

Texto por Monique Lemos.




Fotos de Robert Doisneau.


CENTRO CULTURAL RECOLETA
DIRECCIÓN: JÚNIN, 1930
BUENOS AIRES-ARGENTINA

sábado, 30 de abril de 2011

Es nosotros sem o cineasta.



Somos um triâgulo. Não amoroso, muito menos sexual, somos um triâgulo de apoio, de sermões, de abraços, de amizade e acima de tudo um triângulo familiar. Cada dia mais sabemos um do outro e cada dia mais nos acostumamos com a presença dentro do pequeno apartamento que tentamos manter organizado.

O primeiro dia da casa sem Danilo foi pecualiar, depois de ter tido um dos sonhos mais terríveis e acordar com uma angústia que tomou minha sexta-feira, provoquei ao pequeno bicho preguiça da casa e fomos a uma festa, um "boliche" como dizem os portenhos.

Entre figurinos inesperados e terríveis, as surpresas da noite em Buenos Aires foram aparecendo pouco a pouco. Mas definitivamente não encontramos ainda baladas boas e com músicas realmente boas (julgamento de valores pessoal) a Argentina culturalmente tem a rumbia e reggatown como estilos de música mais frequentes, esta no supermercado, nas ruas e nas rádios.

A música ainda me chamou atenção por algum tempo nessa noite sem as piadinhas malucas do Danilo,o sertanejo brasileiro joga as meninas portenhas de cóqui acima da cabeça nas pistas de dança, alucinadas pela letra abobalhada e enjoativa de casos de amor e safadeza. Pra finalizar essa análise musical, o fim de festa sempre é a melhor coisa, pra ir embora na chuva e no frio, consegui ouvir New Order e The Killers.

Como é recorrente falar por aqui, e como Danilo diria, a noite em Buenos Aires é uma patifaria, mas estamos em casa sãos e salvos e tentando entender e relembrar das partes mais engraçadas da noite.
E como não poderia deixar de notar, a primeira coisa que fizemos quando chegamos em casa foi passar o resumo pro "pai" que esta disfrutando de uma semana no Brasil.

Faz falta aqui Dáliti.

Texto por Monique Lemos
Fotos por Thales e Monique.

sábado, 16 de abril de 2011

Paredes e Riscos!



“El hombre viaja. Ya sea por La necesidad de desplazarse en busca de lugares que ofrecen mejores posibilidades o por la mera curiosidad de conocer otras zonas y ampliar el universo de su cotidianeidad. El hombre se muevo de su hábitat y busca las emociones nuevas que produce em encontrarse com lugares y gentes diferentes a las propias. Conociendo outra naturaleza y costumbres, El ser humano admira lo ajeno y valora lo próprio, realizando um doble ejercicio que resulta fascinante em La historia de las civilizaciones”

Olaya Sanfuentes

Fantástico seria viver no inesperado e dentro do inusitado, sendo de areia ou não tendo nenhuma sereia.
Maravilhoso seria, bater nas portas e janelas de todos os castelos, ser bem recebido com uma xícara de café bem quente e uma nova história, uma nova música e um novo carinho.
Talvez essa não seja a maneira como as civilizações atuem, mas talvez seja como tudo que é produzido por ela artísticamente, seja visto e admirado. Nos muros, nas frases, nas calçadas e nos olhos das pessoas existem o interesse e o desejo pelo novo, o desejo pelo contato, mas alguma regra ainda existe, alguma coisa ainda afasta o bonito do feio, o aceitável do inaceitável, o frio do quente.
Poderia haver uma harmonia?
Talvez na música sim, em um vídeo também ou mesmo em um parágrafo qualquer. O importante é aproveitar o que pede pra ser visto e que muitas vezes não o é.


Texto por Monique Lemos.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

PUMU - Maricota - recoleta



Pumuckl - que virou Pumuca - que virou PUMU

PUMÚSICA – PRAMÚSICA – PRAMAR

PRAMAR O MAR  – SE  HÁ MAR

E SE HÁ ANA –MARIANA!


 Introdução no vídeo de um artista de rua em San Telmo. Primeira música: Outra Face, segunda música: Lasca Brasa 2 – ambas do duo pouso-alegrense PUMU, que às vezes se faz trio composto sempre por Paulinho e Rafael, e quase sempre por Davi também. Essa é uma singela homenagem do És Nosotros a eles e a Mariana Teixeira, a Maricota, amiga e atriz que nos deu o ar da graça e nos guiou pelos corredores do CC Recoleta!

domingo, 10 de abril de 2011

Vantagens e Desvantagens.




Viver em outro país pode parecer comum hoje em dia, a economia do Brasil cresce a cada dia proporcionando melhores oportunidades de escolha, os pais sempre estão preocupados em elevar o nível de educação dos seus mimados filhos e parece até mesmo ser descolado passar alguns anos longe de casa, falando uma língua estranha e postando fotos interessantes no facebook.

Mas, tomando como referência a minha experiência, as coisas não são exatamente assim.

Existem as vantagens e desvantagens. Para que exista realmente alguma vantagem é preciso estar onde se escolheu estar, por algum motivo, no meu caso, estudar em uma Universidade Federal, reconhecida mundialmente. Sim, é grandioso, mas a Uba é o reflexo de uma universidade pública que realmente é para o público, as estruturas mostram uma universidade de terceiro mundo, salas lotadas, pessoas sentadas no chão e com alimentos e água dentro de suas mochilas, pelas paredes só é possível ver as posições políticas e os inúmeros partidos políticos universitários. Se me perguntarem se exite um bebedouro, lhes respondo que não há, muito menos uma sala com computadores. É uma desvantagem!

A vantagem, é que os professores explicam com paixão e com propriedade as maravilhas da cultura latinoamericana, eles citam vorazmente as referências que mais estudamos por curiosidade e por amor, eles analisam ou ao menos tentam analisar as dificuldades de uma sala de aula com mais de 200 alunos, interessados e angustiados por aprender e ler textos de uma forma qualificada.

Volto pra casa de metrô, todos os dias sozinha, ou menos tentando ficar sozinha.
Danilo e Thales são as pessoas que consigo involuntáriamente ficar perto por mais tempo. Quando se vive em um lugar estranho, a vantagem é saber lidar consigo mesmo a maior parte do tempo e não precisar de muitas novidades e pessoas novas, e a desvantagem é viver diariamente também com a saudade e a sensação que você poderia ter passado e aproveitado melhor o tempo com aquelas pessoas que estão lá.

Tento todos os dias entender os duelos entre as vantagens e desvantagens de viver em Buenos Aires, como dois personagens nos contos fantásticos de Borges, como duas teorias distintas num texto sobre Formalismo Russo, como dois sentimentos que vivem se debatendo dentro da Monique.

Se hoje existe algo realmente vantajoso em estar longe dos poucos que ainda amo,a vantagem esta na minha mesa de estudos, que compartilho hoje com vocês a humilde imagem. Desvantajoso é saber que cada vez que sento ali, estudo, traduzo, releio, refaço, sou uma Monique diferente, e a desvantagem é que alguns não possam entender isso.

Pais e mães, amigos e amigas viver em Buenos Aires é como viver em qualquer outro lugar, nós é que deixamos as ruas mais interessantes ou não, nós é que aproveitamos ou não, nós é que aprendemos ou não, nós que vemos vantagens ou não.

A experiência de viver em outro país proporciona que o individuo possa entender a si mesmo e o mundo de uma forma mais madura, vendo ou não vantagens e desvantagens. O importante é, estar aqui ou em qualquer outro lugar por si mesmo, e não por ser uma viagem bacana para o exterior.

Dedico minhas palavras ao Thales e a sua primeira aula de Gastronomia e também dedico minhas palavras ao Professor Danilo que cada semana tem mais alunos argentinos.

És nosotros.

Texto por Monique Lemos, mestranda em literatura pela Universidade Federal de Buenos Aires.

sábado, 9 de abril de 2011

O Taxista


                Dia de mudança todos sabem como é. De qualquer mudança: mudança de turno, de dieta, de trabalho, de supermercado, de trajeto, de corte de cabelo. Sempre nos causa uma apreensão, um medinho, uma insegurança pelo novo, pelo desafio. Não sabemos se estamos na rua certa, onde está aquela marca de café que gostamos tanto, quem serão nossos novos companheiros de trabalho, se as pessoas vão gostar do novo visual. Por tudo isso geralmente mudamos apenas quando é necessário. Mas a maior mudança de todas, a meu ver, é a de casa, tanto que damos a este ato o nome: Mudança! Trocar de casa implica mais do que medo do novo, mais do que muita desordem e muito trabalho pra organizar tudo, mais do que tempo pra descobrir tudo de novo aos redores do novo lar: a nova farmácia, a nova padaria, os novos pontos de ônibus, os novos cinemas, os novos vizinhos, os novos amigos (olha que bonita descoberta: dentre todos os itens, os amigos são os únicos que não se trocam, apenas se somam!). Apesar de tudo, mudar sempre trará muitos pontos positivos porque, independente do motivo, mudar é novidade. Quando viemos viver em Buenos Aires, viemos para uma casa muito grande, muito cara e muito linda. Muito cara para três, ela era pra seis! De início éramos cinco, depois quatro, mas na verdade éramos desde sempre só os três. Então pesou e, com aperto no coração, tivemos que desapegar. Nove malas e mochilonas, violão, computadores, aparatos de cozinha, comida, travesseiros, livros, cascos de cerveja, tudo estava na porta da antiga casa às 11 da manhã do dia 11 de março de 2011.  Faltava apenas a condução para tanta coisa. Teriam que ser dois taxis pelo menos, e eu fui sozinho com a maioria das bagagens no primeiro que aceitou a me dar essa mão. Ansioso, fui colocando tudo aleatoriamente no porta-malas e no banco de trás.

- Despacio!

                Ele me pedia calma! Depois de toda a minha ação, retirou item por item e completou:

- Los más grandes primero, pues los chiquitos puedem irse arriba de los mayores, pero el contrario, no.

Outra dura veio quando quase rasguei o estofado do carro com a rodinha de uma mala. Decidimos juntos de que ele terminaria o serviço sozinho, mesmo porque faltava apenas o violão. Passaríamos  pelo menos meia hora juntos e sozinhos, eu e aquele senhor de bigodes brancos, de cara fechada e poucas palavras, que parecia estar fazendo um favor pra mim, como de fato estava pois, mesmo cobrando pela viagem, tinha sido difícil achar algum taxista disposto a empanturrar o carro com tanta tralha.
Afim de quebrar o gelo e selar a paz entre um brasileiro e um argentino, puxei o assunto que não poderia ser outro:

- O senhor gosta de futebol?

- Sim!

Respondeu ele com um entusiasmo que me fez pensar se eu deveria realmente ter aberto minha boca durante aquela viagem que já se tornara longa, apesar de termos avançado apenas uma esquina do marco inicial.
Por outro lado, ele me dera o direito de permanecer calado e apenas desfrutar das ruas que ainda não conhecia na cidade. Mas eu queria mesmo era conversar e insisti:

- Que time o senhor torce?

Parecendo tirar uma com a minha cara, respondeu:

- Gosto,  mas não acompanho!

Silêncio pelas próximas cinco quadras que se seguiram até que eu, quase que pedindo desculpas, perguntei:

- Estamos longe?

Com o mesmo entusiasmo de outrora:

- Mais ou menos!

Voltei à paisagem. E, dentre casas, prédios, ruas, havia uma placa da Brahma, que me lembrou: sou brasileiro e não desisto nunca!

- Por que Juan Perón é tão importante pra Argentina?

Parecia que ele esperava por uma pergunta que lhe valesse a pena desperdiçar os perdigotos que então descobri voar de sua boca quando fala muito.

- Perón foi como Vargas, porém diferente.

Fez questão de falar com calma e pausas.

- Ele criou leis trabalhistas, estipulou uma jornada de trabalho, beneficiou as mulheres grávidas, fez um salário mínimo. Tudo está vigente até hoje. Outros com certeza fariam, mas foi ele que fez. Ele agiu em prol dos trabalhadores, como deve ser feito e, mesmo com todos os defeitos que surgiram depois, ele se deteve ao seu discurso inicial, e estava do lado do povo, ele era populista, trabalhou muito bem essa imagem ao ponto de o povo na época não se importar muito com seus luxos, porque ele tinha muito, assim como Vargas. A diferença é que ele não quis virar o rei da Argentina como Vargas quis virar o do Brasil. De certa forma Perón deu sempre poder ao povo, mesmo que só em discurso. Então mesmo quando o país não atravessa um bom momento no seu comando, as pessoas trabalhavam motivadas e acreditando no país. Vargas quis criar o seu estado novo e gerou revolta na população, foi imperialista e ditador. Foi muito ganancioso, como os demais presidentes que o Brasil teve. Aliás, o que Deus deu de jogador bom pra vocês ele deu de presidentes ruins. O Brasil, esse país maravilhoso, enorme, de pessoas maravilhosas e governantes medíocres. Durante muito tempo, brasileiros tinham fama de gatunos aqui: roubavam nas lojas, tentavam entrar sem pagar no ônibus, mas isso faz tempo. Agora mudou. O Lula é o melhor presidente que a América Latina já teve, e um dos melhores que o mundo já teve, sabe por quê?

Eu só poderia dar linha pra pipa:

- Por que?

- Porque ele pintou o elefante! O Brasil era o elefante branco porque os presidentes não queriam resolver o principal problema. Veja bem: A Argentina tem a classe média muito forte. A classe média não gasta com supérfluos, não tem muito luxo, mas não vive na miséria. A Argentina é em seu DNA socialista, e o povo de um país socialista é mais unido e mais forte. Por isso que Maradona é mais ídolo pros argentinos do que o Pelé para os brasileiros. No Brasil o dinheiro é mal distribuído e a classe predominante é a dos mais pobres. O que o Lula fez: concentrou sua ação na classe predominante, conseguiu manter a economia estável para que as prestações fossem viáveis e os pobres pudessem comprar e desenvolveu programas que deram dignidade para os miseráveis. E quando um miserável sente dignidade pela primeira vez, ele nunca mais quer deixar de ter. E o que dignifica o homem?

- O trabalho!

- Claro! O miserável quer trabalhar. E olha que interessante: aumentou o número de pessoas querendo trabalhar e mesmo assim o desemprego diminuiu muito. Ou seja, emprego tinha, não tinha gente querendo trabalhar. Agora os pobres do Brasil, que são muitos, podem comprar, podem rodar o dinheiro, o que fez nos últimos 8 anos o Brasil crescer como nunca. E o Brasil crescendo é a única esperança que temos pra América do Sul se tornar um continente independente. E pra isso acontecer falta pouco, falta a gente ser um pouco mais chavista e a Venezuela um pouco menos, e adivinha quem é a única pessoa no mundo que poderia fazer o  Chávez ser menos chavista: Lula, mas agora ele saiu. A Dilma está vindo amanhã conversar com a Cristina e os argentinos esperam que ela não mude o rumo das coisas.

Era interessante ouvir a análise de um estrangeiro sobre o nosso desenvolvimento e a viagem se fez bem mais curta do que eu esperava, tanto que, quase que saindo de um transe, o taxista que mais tarde se apresentaria como Nicolás me perguntou:

- Qual é o nome da rua mesmo?

- Estados Unidos, altura 828!

- Já passamos!

Desligou o taxímetro, e aceitando minhas implícitas desculpas disse apontando para os 49 pesos que a máquina marcava:

- você vai pagar $45!

Eu disse que não tinha problema pagar a tarifa rodada, mas ele fez questão.

Enquanto procurava um retorno ainda brincou:

- Você, um brasileiro, na Argentina, morando nas Estados Unidos. É quase uma convenção da ONU numa pessoa só. Faça alguma coisa por nós!

Humildemente respondi que não havia muito que eu poderia fazer. Ele estacionou o carro em frente ao meu novo endereço e me aconselhou:

- Comece tirando a mala de rodinhas com cuidado e você já estará fazendo alguma coisa.


Por Danilo Santo