sábado, 4 de junho de 2011

Pra mim,

          A melhor parte de uma longa viagem, independente de seu destino, é quando se volta pra casa. É quando se volta pra sua família, pros seus amigos, pra suas maritacas que te atazanam diariamente pouco antes de acordar, pra sua rua esburacada, pro seu circular que sempre atrasa quando não deve, pro seu vizinho gente boa que há anos compartilha quase a mesma rotina que a sua, pra vizinha gostosa que nunca dura mais que seis meses morando ali. Você volta pra sua vida e pro seu mundo. Parece essas frases clichês de comercial de cartão de crédito, então vamos tentar de novo: a melhor parte de uma longa viagem eu jamais tentaria explicar. As sensações são únicas e subjetivas, cada um com a sua. Huxley em seu ensaio sobre a mescalina, que também trata de uma viagem, teve o cuidado logo no começo de seu trabalho em dizer que uma experiência sensorial não se explica. Platão, Aristóteles, Plotino, Santo Tomás, Adorno, e mais um tanto, desenvolveram teorias para tentar verbalizar as sensações humanas, principalmente diante de uma obra de arte, o que não deixa de ser outro tipo de viagem.
           Mas do caso a que me refiro, poderia até dizer que a viagem de volta à minha cidade foi pra prestigiar o casamento de um grande amigo, ou para reencontrar minha namorada, ou abraçar meus pais e meus irmãos, sentir o cheiro do café e do bolo de chocolate quente ainda no forno na casa da mamãe, ir ao batizado de meus priminhos e rever a todos que amo e não via há meses. Quase todo mundo sabe do que estou falando ou o que estou sentindo. Temos quase todos, referências parecidas. Porque são maravilhosamente comuns. Por isso que eu acho importante uma banda como o PUMU. Por isso acho legal ter encontrado nessa breve volta minha a Pouso Alegre um som como o da americana Audrey Chen que, apesar de não ter prestado muita atenção no som dos caras do PUMU segundo o que ela mesma me disse, traz mais uma referencia estranha para quem teve o interesse de ir ver. É legal ser estranho, romper os padrões, perder o medo do novo e do desconhecido, provar antes de rejeitar, se dedicar um pouco antes de desistir. 
          O som da americana quase faz os caras do esplanada parecerem comum. E se o som do PUMU já nos soa quase comum, é um bom sinal de que caminhamos rumo a um desconhecido infinito, ou eterno, sei lá o que caberia melhor. Caminhamos! Hoje é na música, que talvez seja o meio mais fácil de perceber, já que escutamos música todos os dias. Amanhã pode ser no teatro, nas artes plásticas, no cinema, ou numa vídeo-instalação, como o Rafael Brandão está se propondo a fazer, ou na tentativa de qualquer outro artista de Pouso Alegre. Daqui a pouco estará nas escolhas diárias das pessoas todas, ao ir trabalhar de bicicleta ou a pé e deixar o carro na garagem pro transito ficar menos infernal (e aproveitar para encontrar com as pessoas pelas ruas e cumprimentá-las, já que todos se conhecem), ao fechar seu negocio depois do almoço pra você e os funcionários poderem dar aquela cochiladinha e acordarem mais felizes e dispostos para as obrigações diárias, ao fazer amigos diferentes de você, acabando com os preconceitos, libertando a alma de cada um, mostrando que a vida pode ser vivida de mil possibilidades, com mil pessoas, em mil lugares. Mil vidas em uma só, mesmo se você viver no mesmo lugar de sempre. Sem medo de errar, sem medo de ser julgado, sem medo de ser diferente do outro, sem medo! Cultura não é só deleite





Texto e imagens: Danilo

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Olhares do Subúrbio

Agumas vezes já me perguntaram: o que faço quando me sinto sozinha? A resposta é muito clara: vou ver coisas bonitas! E neste domingo onde o céu de Buenos Aires só mandava cores cinzas e ventos que cortavam o rosto e mãos, fui ao encontro de Robert Doineau.

Francês, humanista e com um senso de humor magnífico, o fotógrafo dedicou a vida a buscar nos subúrbios da badalada Paris, os olhares mais inusitados, os beijos mais bonitos, os seios menos vistos e as bocas desdentadas com os sorrisos mais sinceros.

Passei quase 3 horas nos corredores brancos do Centro Cultural Recoleta, me sentava, levantava, olhava algumas pessoas e principalmente os casais e pensava, porque todo mundo esta aqui?
O que procuram as pessoas nas fotografias em preto e branco de um artista que eles não sabiam da existência? Cheguei a conclusão que estão todos como eu, buscando um sentido nas imagens, um engrandecimento da alma.
Pra mim, sorrir sozinha ao longo de um corredor com 137 fotos de desconhecidos como nós, foi um divisor de águas na crítica que faço a mim mesma todos os dias. Que discurso eu represento?

Não sei! Mas ontem ao ver as imagens que compartilho com vocês percebi que em Buenos Aires, no Timor Leste, em Pouso Alegre, em qualquer lugar que haja vida, todo mundo só quer é existir, reproduzindo discursos ou não, sendo esteriótipos ou não.

As fotos de Doisneau para mim foi o dia 01 dos 100 dias que me proponho a compartilhar com vocês. Em 100 dias de vazio, tornarei a produção artística, minha mais fiel companheira não porque quero ser cult ou uma mulher interessante, mas sim, porque no vazio e nas indefinições que a vida me causa, só creio estar na arte, uma fuga produtiva ao receptor.

Críticas ao alto, julgamentos abertos, também somos o que perdemos!

Texto por Monique Lemos.




Fotos de Robert Doisneau.


CENTRO CULTURAL RECOLETA
DIRECCIÓN: JÚNIN, 1930
BUENOS AIRES-ARGENTINA

sábado, 30 de abril de 2011

Es nosotros sem o cineasta.



Somos um triâgulo. Não amoroso, muito menos sexual, somos um triâgulo de apoio, de sermões, de abraços, de amizade e acima de tudo um triângulo familiar. Cada dia mais sabemos um do outro e cada dia mais nos acostumamos com a presença dentro do pequeno apartamento que tentamos manter organizado.

O primeiro dia da casa sem Danilo foi pecualiar, depois de ter tido um dos sonhos mais terríveis e acordar com uma angústia que tomou minha sexta-feira, provoquei ao pequeno bicho preguiça da casa e fomos a uma festa, um "boliche" como dizem os portenhos.

Entre figurinos inesperados e terríveis, as surpresas da noite em Buenos Aires foram aparecendo pouco a pouco. Mas definitivamente não encontramos ainda baladas boas e com músicas realmente boas (julgamento de valores pessoal) a Argentina culturalmente tem a rumbia e reggatown como estilos de música mais frequentes, esta no supermercado, nas ruas e nas rádios.

A música ainda me chamou atenção por algum tempo nessa noite sem as piadinhas malucas do Danilo,o sertanejo brasileiro joga as meninas portenhas de cóqui acima da cabeça nas pistas de dança, alucinadas pela letra abobalhada e enjoativa de casos de amor e safadeza. Pra finalizar essa análise musical, o fim de festa sempre é a melhor coisa, pra ir embora na chuva e no frio, consegui ouvir New Order e The Killers.

Como é recorrente falar por aqui, e como Danilo diria, a noite em Buenos Aires é uma patifaria, mas estamos em casa sãos e salvos e tentando entender e relembrar das partes mais engraçadas da noite.
E como não poderia deixar de notar, a primeira coisa que fizemos quando chegamos em casa foi passar o resumo pro "pai" que esta disfrutando de uma semana no Brasil.

Faz falta aqui Dáliti.

Texto por Monique Lemos
Fotos por Thales e Monique.

sábado, 16 de abril de 2011

Paredes e Riscos!



“El hombre viaja. Ya sea por La necesidad de desplazarse en busca de lugares que ofrecen mejores posibilidades o por la mera curiosidad de conocer otras zonas y ampliar el universo de su cotidianeidad. El hombre se muevo de su hábitat y busca las emociones nuevas que produce em encontrarse com lugares y gentes diferentes a las propias. Conociendo outra naturaleza y costumbres, El ser humano admira lo ajeno y valora lo próprio, realizando um doble ejercicio que resulta fascinante em La historia de las civilizaciones”

Olaya Sanfuentes

Fantástico seria viver no inesperado e dentro do inusitado, sendo de areia ou não tendo nenhuma sereia.
Maravilhoso seria, bater nas portas e janelas de todos os castelos, ser bem recebido com uma xícara de café bem quente e uma nova história, uma nova música e um novo carinho.
Talvez essa não seja a maneira como as civilizações atuem, mas talvez seja como tudo que é produzido por ela artísticamente, seja visto e admirado. Nos muros, nas frases, nas calçadas e nos olhos das pessoas existem o interesse e o desejo pelo novo, o desejo pelo contato, mas alguma regra ainda existe, alguma coisa ainda afasta o bonito do feio, o aceitável do inaceitável, o frio do quente.
Poderia haver uma harmonia?
Talvez na música sim, em um vídeo também ou mesmo em um parágrafo qualquer. O importante é aproveitar o que pede pra ser visto e que muitas vezes não o é.


Texto por Monique Lemos.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

PUMU - Maricota - recoleta



Pumuckl - que virou Pumuca - que virou PUMU

PUMÚSICA – PRAMÚSICA – PRAMAR

PRAMAR O MAR  – SE  HÁ MAR

E SE HÁ ANA –MARIANA!


 Introdução no vídeo de um artista de rua em San Telmo. Primeira música: Outra Face, segunda música: Lasca Brasa 2 – ambas do duo pouso-alegrense PUMU, que às vezes se faz trio composto sempre por Paulinho e Rafael, e quase sempre por Davi também. Essa é uma singela homenagem do És Nosotros a eles e a Mariana Teixeira, a Maricota, amiga e atriz que nos deu o ar da graça e nos guiou pelos corredores do CC Recoleta!

domingo, 10 de abril de 2011

Vantagens e Desvantagens.




Viver em outro país pode parecer comum hoje em dia, a economia do Brasil cresce a cada dia proporcionando melhores oportunidades de escolha, os pais sempre estão preocupados em elevar o nível de educação dos seus mimados filhos e parece até mesmo ser descolado passar alguns anos longe de casa, falando uma língua estranha e postando fotos interessantes no facebook.

Mas, tomando como referência a minha experiência, as coisas não são exatamente assim.

Existem as vantagens e desvantagens. Para que exista realmente alguma vantagem é preciso estar onde se escolheu estar, por algum motivo, no meu caso, estudar em uma Universidade Federal, reconhecida mundialmente. Sim, é grandioso, mas a Uba é o reflexo de uma universidade pública que realmente é para o público, as estruturas mostram uma universidade de terceiro mundo, salas lotadas, pessoas sentadas no chão e com alimentos e água dentro de suas mochilas, pelas paredes só é possível ver as posições políticas e os inúmeros partidos políticos universitários. Se me perguntarem se exite um bebedouro, lhes respondo que não há, muito menos uma sala com computadores. É uma desvantagem!

A vantagem, é que os professores explicam com paixão e com propriedade as maravilhas da cultura latinoamericana, eles citam vorazmente as referências que mais estudamos por curiosidade e por amor, eles analisam ou ao menos tentam analisar as dificuldades de uma sala de aula com mais de 200 alunos, interessados e angustiados por aprender e ler textos de uma forma qualificada.

Volto pra casa de metrô, todos os dias sozinha, ou menos tentando ficar sozinha.
Danilo e Thales são as pessoas que consigo involuntáriamente ficar perto por mais tempo. Quando se vive em um lugar estranho, a vantagem é saber lidar consigo mesmo a maior parte do tempo e não precisar de muitas novidades e pessoas novas, e a desvantagem é viver diariamente também com a saudade e a sensação que você poderia ter passado e aproveitado melhor o tempo com aquelas pessoas que estão lá.

Tento todos os dias entender os duelos entre as vantagens e desvantagens de viver em Buenos Aires, como dois personagens nos contos fantásticos de Borges, como duas teorias distintas num texto sobre Formalismo Russo, como dois sentimentos que vivem se debatendo dentro da Monique.

Se hoje existe algo realmente vantajoso em estar longe dos poucos que ainda amo,a vantagem esta na minha mesa de estudos, que compartilho hoje com vocês a humilde imagem. Desvantajoso é saber que cada vez que sento ali, estudo, traduzo, releio, refaço, sou uma Monique diferente, e a desvantagem é que alguns não possam entender isso.

Pais e mães, amigos e amigas viver em Buenos Aires é como viver em qualquer outro lugar, nós é que deixamos as ruas mais interessantes ou não, nós é que aproveitamos ou não, nós é que aprendemos ou não, nós que vemos vantagens ou não.

A experiência de viver em outro país proporciona que o individuo possa entender a si mesmo e o mundo de uma forma mais madura, vendo ou não vantagens e desvantagens. O importante é, estar aqui ou em qualquer outro lugar por si mesmo, e não por ser uma viagem bacana para o exterior.

Dedico minhas palavras ao Thales e a sua primeira aula de Gastronomia e também dedico minhas palavras ao Professor Danilo que cada semana tem mais alunos argentinos.

És nosotros.

Texto por Monique Lemos, mestranda em literatura pela Universidade Federal de Buenos Aires.

sábado, 9 de abril de 2011

O Taxista


                Dia de mudança todos sabem como é. De qualquer mudança: mudança de turno, de dieta, de trabalho, de supermercado, de trajeto, de corte de cabelo. Sempre nos causa uma apreensão, um medinho, uma insegurança pelo novo, pelo desafio. Não sabemos se estamos na rua certa, onde está aquela marca de café que gostamos tanto, quem serão nossos novos companheiros de trabalho, se as pessoas vão gostar do novo visual. Por tudo isso geralmente mudamos apenas quando é necessário. Mas a maior mudança de todas, a meu ver, é a de casa, tanto que damos a este ato o nome: Mudança! Trocar de casa implica mais do que medo do novo, mais do que muita desordem e muito trabalho pra organizar tudo, mais do que tempo pra descobrir tudo de novo aos redores do novo lar: a nova farmácia, a nova padaria, os novos pontos de ônibus, os novos cinemas, os novos vizinhos, os novos amigos (olha que bonita descoberta: dentre todos os itens, os amigos são os únicos que não se trocam, apenas se somam!). Apesar de tudo, mudar sempre trará muitos pontos positivos porque, independente do motivo, mudar é novidade. Quando viemos viver em Buenos Aires, viemos para uma casa muito grande, muito cara e muito linda. Muito cara para três, ela era pra seis! De início éramos cinco, depois quatro, mas na verdade éramos desde sempre só os três. Então pesou e, com aperto no coração, tivemos que desapegar. Nove malas e mochilonas, violão, computadores, aparatos de cozinha, comida, travesseiros, livros, cascos de cerveja, tudo estava na porta da antiga casa às 11 da manhã do dia 11 de março de 2011.  Faltava apenas a condução para tanta coisa. Teriam que ser dois taxis pelo menos, e eu fui sozinho com a maioria das bagagens no primeiro que aceitou a me dar essa mão. Ansioso, fui colocando tudo aleatoriamente no porta-malas e no banco de trás.

- Despacio!

                Ele me pedia calma! Depois de toda a minha ação, retirou item por item e completou:

- Los más grandes primero, pues los chiquitos puedem irse arriba de los mayores, pero el contrario, no.

Outra dura veio quando quase rasguei o estofado do carro com a rodinha de uma mala. Decidimos juntos de que ele terminaria o serviço sozinho, mesmo porque faltava apenas o violão. Passaríamos  pelo menos meia hora juntos e sozinhos, eu e aquele senhor de bigodes brancos, de cara fechada e poucas palavras, que parecia estar fazendo um favor pra mim, como de fato estava pois, mesmo cobrando pela viagem, tinha sido difícil achar algum taxista disposto a empanturrar o carro com tanta tralha.
Afim de quebrar o gelo e selar a paz entre um brasileiro e um argentino, puxei o assunto que não poderia ser outro:

- O senhor gosta de futebol?

- Sim!

Respondeu ele com um entusiasmo que me fez pensar se eu deveria realmente ter aberto minha boca durante aquela viagem que já se tornara longa, apesar de termos avançado apenas uma esquina do marco inicial.
Por outro lado, ele me dera o direito de permanecer calado e apenas desfrutar das ruas que ainda não conhecia na cidade. Mas eu queria mesmo era conversar e insisti:

- Que time o senhor torce?

Parecendo tirar uma com a minha cara, respondeu:

- Gosto,  mas não acompanho!

Silêncio pelas próximas cinco quadras que se seguiram até que eu, quase que pedindo desculpas, perguntei:

- Estamos longe?

Com o mesmo entusiasmo de outrora:

- Mais ou menos!

Voltei à paisagem. E, dentre casas, prédios, ruas, havia uma placa da Brahma, que me lembrou: sou brasileiro e não desisto nunca!

- Por que Juan Perón é tão importante pra Argentina?

Parecia que ele esperava por uma pergunta que lhe valesse a pena desperdiçar os perdigotos que então descobri voar de sua boca quando fala muito.

- Perón foi como Vargas, porém diferente.

Fez questão de falar com calma e pausas.

- Ele criou leis trabalhistas, estipulou uma jornada de trabalho, beneficiou as mulheres grávidas, fez um salário mínimo. Tudo está vigente até hoje. Outros com certeza fariam, mas foi ele que fez. Ele agiu em prol dos trabalhadores, como deve ser feito e, mesmo com todos os defeitos que surgiram depois, ele se deteve ao seu discurso inicial, e estava do lado do povo, ele era populista, trabalhou muito bem essa imagem ao ponto de o povo na época não se importar muito com seus luxos, porque ele tinha muito, assim como Vargas. A diferença é que ele não quis virar o rei da Argentina como Vargas quis virar o do Brasil. De certa forma Perón deu sempre poder ao povo, mesmo que só em discurso. Então mesmo quando o país não atravessa um bom momento no seu comando, as pessoas trabalhavam motivadas e acreditando no país. Vargas quis criar o seu estado novo e gerou revolta na população, foi imperialista e ditador. Foi muito ganancioso, como os demais presidentes que o Brasil teve. Aliás, o que Deus deu de jogador bom pra vocês ele deu de presidentes ruins. O Brasil, esse país maravilhoso, enorme, de pessoas maravilhosas e governantes medíocres. Durante muito tempo, brasileiros tinham fama de gatunos aqui: roubavam nas lojas, tentavam entrar sem pagar no ônibus, mas isso faz tempo. Agora mudou. O Lula é o melhor presidente que a América Latina já teve, e um dos melhores que o mundo já teve, sabe por quê?

Eu só poderia dar linha pra pipa:

- Por que?

- Porque ele pintou o elefante! O Brasil era o elefante branco porque os presidentes não queriam resolver o principal problema. Veja bem: A Argentina tem a classe média muito forte. A classe média não gasta com supérfluos, não tem muito luxo, mas não vive na miséria. A Argentina é em seu DNA socialista, e o povo de um país socialista é mais unido e mais forte. Por isso que Maradona é mais ídolo pros argentinos do que o Pelé para os brasileiros. No Brasil o dinheiro é mal distribuído e a classe predominante é a dos mais pobres. O que o Lula fez: concentrou sua ação na classe predominante, conseguiu manter a economia estável para que as prestações fossem viáveis e os pobres pudessem comprar e desenvolveu programas que deram dignidade para os miseráveis. E quando um miserável sente dignidade pela primeira vez, ele nunca mais quer deixar de ter. E o que dignifica o homem?

- O trabalho!

- Claro! O miserável quer trabalhar. E olha que interessante: aumentou o número de pessoas querendo trabalhar e mesmo assim o desemprego diminuiu muito. Ou seja, emprego tinha, não tinha gente querendo trabalhar. Agora os pobres do Brasil, que são muitos, podem comprar, podem rodar o dinheiro, o que fez nos últimos 8 anos o Brasil crescer como nunca. E o Brasil crescendo é a única esperança que temos pra América do Sul se tornar um continente independente. E pra isso acontecer falta pouco, falta a gente ser um pouco mais chavista e a Venezuela um pouco menos, e adivinha quem é a única pessoa no mundo que poderia fazer o  Chávez ser menos chavista: Lula, mas agora ele saiu. A Dilma está vindo amanhã conversar com a Cristina e os argentinos esperam que ela não mude o rumo das coisas.

Era interessante ouvir a análise de um estrangeiro sobre o nosso desenvolvimento e a viagem se fez bem mais curta do que eu esperava, tanto que, quase que saindo de um transe, o taxista que mais tarde se apresentaria como Nicolás me perguntou:

- Qual é o nome da rua mesmo?

- Estados Unidos, altura 828!

- Já passamos!

Desligou o taxímetro, e aceitando minhas implícitas desculpas disse apontando para os 49 pesos que a máquina marcava:

- você vai pagar $45!

Eu disse que não tinha problema pagar a tarifa rodada, mas ele fez questão.

Enquanto procurava um retorno ainda brincou:

- Você, um brasileiro, na Argentina, morando nas Estados Unidos. É quase uma convenção da ONU numa pessoa só. Faça alguma coisa por nós!

Humildemente respondi que não havia muito que eu poderia fazer. Ele estacionou o carro em frente ao meu novo endereço e me aconselhou:

- Comece tirando a mala de rodinhas com cuidado e você já estará fazendo alguma coisa.


Por Danilo Santo


  

terça-feira, 5 de abril de 2011

Un domingo con Nosotros

“Pobre é o diabo e nós odiamos a ostentação”.

Começamos a divagar sobre nosso domingo parafraseando um ídolo em comum. Domingo é o nosso dia internacional de pensarmos como ricos. Para isso sempre neste dia acordamos o Thales mais cedo que o de costume (por volta das 11h), nem olhamos para janela porque o clima não tem poder sobre nossa devoção ao dia sagrado e, como uma família mineira feliz que esperou o ano todo pra
chegar à tão sonhada viagem pra Ubatuba, Cabo Frio ou Guarapari (dependendo da altura de Minas que a pessoa for), juntamos nossos protetores solares e vamos ao Burger King.

Na fila (cada um em uma pra utilizarmos a daquele que chegar primeiro) a indecisão só acaba quando chega a nossa vez e, pressionados pelos companheiros que estão atrás e pelo atendente que nunca está sorrindo, pedimos sempre as mesmas coisas.

De lá, munidos de casquinhas, caminhamos até a tradicional e popular feira de San Telmo, a Benedito Calixto de Buenos Aires, com turistas, bêbados e artistas (avulsos, 2 em 1, 3 em 1), muita comida boa e algumas ruins também, além das antiguidades e dos artesanatos.

Mas, como alegria de pobre dura pouco, o nosso glamour desce guela abaixo junto com os lanches do Burger King e a nossa ida à praça nada mais é do que um passeio digestivo. Perguntamos preços de tudo mas não levamos nada, quando se chega em Buenos Aires cheio de reais nos bolsos é uma maravilha: temos a sensação de estarmos ricos ( sensação que passa como dor de
cabeça após uma dose de dipirona, pois os argentinos pensam em dólares e vendem em dólares, coisa nada acessível a estudantes brasileiros, o que é uma m*~?&%# vilha).

Mas voltando ao tema inspirador do post, aqui em casa criamos esse dia juntos, comemos juntos, sabemos mais da infância e família de cada um, andando pela rua descobrimos como um e outro se interagem com as novidades portenhas e o mais incrível, a cada domingo, parece que o próximo é mais desejado e esperado.

Deixando os sentimentalismos de lado, a Feira de San Telmo é organizada na Calle Defensa, uma longa rua que termina na Praça Dorrego onde os materiais antigos se concentram em maior número. Ao longo dessa caminhada, temos músicos, inclusive brasileiros, que fazem a alegria dos gringão que, com suas câmeras supermegapower, sacam fotos e vídeos com aquelas caras brancas avermelhadas de sol, nitidamente não entendendo nada do que se passa, mas achando tudo bem “latinoamericano caliente”.

Danilo procura as imagens, Monique roupas e livros, Thales comidas e água com gás, mas todos com curiosidade sincera e nostalgia focada naqueles que gostaríamos que estivessem juntos na caminhada dominical, e que de certa forma estão:

mães, pais, irmãos, cachorros, namorados sérios e não sérios, amigos, não mais amigos ...

Enfim, como diria um amigo comunista, vivendo a doença do domingo da melhor maneira. 


E antes de terminar, eu, Danilo, empunho a pena, só, para redigir meus pedidos de desculpas por uma grande falha. Monique foi responsável pela captação de algumas imagens do vídeo e eu, bisonhamente, só me dei conta com a edição feita. Fica aqui o merecido crédito. Imagens: Danilo Santo e Monique Lemos.


E o texto também foi escrito por DANILO E MONIQUE. (O Thales está se preparando psicologicamente para seu post. Se em cinco anos ele não conseguir falar sobre a empanada, ele estará automaticamente deletado do blog)

quarta-feira, 30 de março de 2011

Noche en Vela



Sábado passado foi dia de virada cultural em Buenos Aires, Toronto, Paris, Madrid, Berlim, Riga, São Petesburgo e outras cidades grandes do mundo as quais o folheto informativo do evento se refere como otras grandes ciudades del mundo (deixo a quem tiver interesse e disposição o site para pesquisar quais seriam estas: www.google.com)
Musica, teatro, literatura,cinema, dança,  artes plásticas, arquitetura e design, escultura, culinária, videozinhos coloridos, instalações que diziam alguma coisa e outras que também diziam mas eu não entendia, tudo teve seu espaço para ser apreciado e também aprendido, já que a noite também era de oficinas e workshops. Como o blog surgiu no domingo, eu preferi reverberar do que gravar e a minha abstinência ao álcool por quarenta dias não consecutivos (19+19) devido à minha primeira quaresma, influenciou diretamente no resultado negativo de captação já que, na ansiedade de ver tudo, não vimos quase nada, e os mais bonitos, não registrei (como disse, não tinha planos de publicar, então preferia fechar os olhos pras pessoas do lado pensarem que eu estava sentindo profundamente a obra). O vídeo que segue serve mais pra mostrar a atmosfera de alguns dos mais de 150 pontos onde aconteceram coisas, do que mostrar o evento propriamente dito. Editei as imagens mas quis manter o som original de todos os lugares. Abraços a quem é de abraços e beijos a quem é de beijos!

Danilo Santo (este nome foi adotado devido a um trauma de infância onde meus irmãos me zoavam dizendo que existia Santo André e São Rafael, mas não tinha São Danilo – meu pai até tentou reparar o erro dizendo que na Itália existia, mas com a chegada do Google descobri que o único São Danilo é um edifício que fica na Vila Tupi, na Praia Grande, provavelmente construído por algum xará meu, irmão de algum Antônio, Pedro, Cristóvão, etc. Aí, como já sou Santos, decidi por conta própria me tornar Santo, ao menos no meu blog)



segunda-feira, 28 de março de 2011

Os cem anos de solidão dos Buendía.



Cem anos de solidão é uma obra prima que se encontra entre os livros latino-americanos mais lidos no mundo inteiro, caracteriza em mais de trezentas páginas, o realismo fantástico estilizado a sua maneira pelo colombiano Gabriel García Marquez. Entre ciganos que possuem tapetes mágicos e mulheres maravilhosas que sobem aos céus virando anjos nus, o escritor conta a história dos Buendía e a cidadela de Macondo onde a vida solitária dos personagens e os acontecimentos inusitados, traçam o seu começo e fim junto a estirpe que movimenta os capítulos da narrativa.
Em muitas sínteses e críticas lidas relacionadas ao livro de Marquez, informa-se que é necessário o acompanhamento traçado da árvore genealógica da família Buendía, para que não se confundam os inúmeros Aurelianos e Arcadios, que nascem e morrem num ciclo constante de repetições que caracteriza a obra e o seu título.
Entre os personagens bem construídos e peculiares, é possível identificar como o escritor mergulha na solidão e característica de cada geração e de cada filho gerado pelo amor e paixão desenfreados dos Buendía, entre capítulos distantes, o autor retorna a gerações anteriores sem perder de vista detalhes escritos antes e que não se perdem entre a repetição de personagens e nomes.
Nas universidades e meios literários sempre é colocada em pauta a posição política de uma obra, em Cem anos de Solidão, as posições liberais e conservadoras são colocadas com simplicidade, não obstante no decorrer da Guerra sem vitórias feita pelo Coronel Aureliano Buendía, nota-se a admiração do autor pela posição liberal e de luta de classes que o personagem da segunda geração da família carrega durante muitos anos e capítulos da obra. O autor despeja com lindas palavras no texto, a vida inteira de um homem que lutou em 32 guerras sem vitórias, por uma situação melhor de vida aos trabalhadores de Macondo.
Marquez define as posições políticas que tomam metade da obra e caracterizam em muitos momentos a vida da cidade no auge de seu desenvolvimento, no seguinte trecho, em que o sogro do Coronel Aureliano diz :
Os liberais, dizia, eram maçons; gente de má índole, partidária de enforcar os padres, de instituir o casamento civil e o divórcio, de reconhecer iguais direitos aos filhos naturais e aos legítimos, e de despedaçar o país num sistema federal que despojaria de poderes a autoridade suprema. Os conservadores, ao contrário, que tinha recebido o poder diretamente de Deus, pugnavam pela estabilidade da ordem pública e pela moral familiar; eram os defensores da fé de Cristo, do princípio da autoridade, e não estavam dispostos a permitir que o país fosse esquartejado em entidades autônomas. (MARQUEZ, 1967 p.88)
Inúmeros personagens definidos como liberais ao longo da história, gritam a liberdade e a luta armada para defender os direitos de liberdade e trabalho, homens estes que morrem fuzilados diante de muros e são condenados a uma morte jovem e sem reconhecimentos.
Nesse livro, que tornou o nome do escritor colombiano como um dos escritores mais respeitados universalmente, temos contato com uma construção de pessoas ousadas como Amaranta Úrsula, última geração da família, que se apaixona por seu tio e vivem a última história de amor da obra, onde finalmente seria gerado um filho Buendía com rabo entre as pernas, medo que aterrorizava Úrsula, a mãe de todas as gerações dos Buendía, que viveu  mais de 100 anos e imortalizou nas linhas da obra a figura de uma mulher líder, forte, cega e independente.
A loucura e a insanidade são características pertinentes neste livro, desde a primeira geração onde José Arcadio Buendía junto aos ciganos que chegavam a Macondo, tentavam descobrir a forma da Terra, a ciência não definida até que ficassem loucos, ou melhor dizendo ensimesmados em um mundo de pesquisas  e informações jamais visto naquele povoado.
As características do realismo fantástico de Gabriel Garcia Marquez, torma o texto cada vez mais real, o leitor não se assusta ou incomoda com espíritos convivendo normalmente com os vivos, ou objetos que se movimentam sozinhos afim de deixarem loucos seus donos, atitudes surreais como essas tornam o texto mais apaixonante e rico em detalhes e não cômico como a primeira vista se pode presumir.
A leitura de relatos de uma família grande e solitária me faz pensar que convivemos com um sentido de solidão um tanto quanto destorcido, aqui a solidão é sinônimo de recusa por amor, de silêncio por outros tipos de amor como a leitura e o conhecimento, a solidão voluntária pela morte de um grande amor jovem ou por não suportar uma velhice acompanhada. Os personagens do escritor colombiano, assim como a estudante de letras que aqui vos singelamente informa, tratam a solidão como uma forma mor de aprender o que é a verdade de um grande amor ou de um grande feito.
Como ouvi na última aula de critica literária, A LITERATURA EXISTE PARA CRIAR ALGO  NOVO NO LEITOR E NÃO PARA SER RE-LIDA OU RE-ESCRITA.  Vivemos talvez a geração que menos convive com a solidão, por medo, por insegurança ou até por necessidade exacerbada da aprovação do outro e de reconhecimento, o que nega a tão repetida característica do “ensimesmar” nos ensinada pelo escritor aqui explorado.
Cien años de Soledad, buena lectura !!!!
Texto por Monique Lemos.


O dia da memória, que eu nunca vou esquecer.


Não fosse a data uma celebração mórbida, teria sido pra mim o dia 24/03/2011, um dia de extrema alegria. A começar pelo céu que estava lindo, sem nuvens, e a temperatura que estava baixa. Descobri na segunda-feira 21, que na quinta 24, seria feriado. Descobri então, através de um aluno, que o dia 24 de março se comemora a tomada do poder pelos militares aqui na Argentina, e que deram a esse dia o nome de “Dia da Memória”. É isso mesmo: a data se refere ao dia que os militares chegaram ao poder, e não ao dia em que eles perderam o poder. Segundo alguns argentinos, isso serve para manter vivo na memória um passado negro, para que ele nunca mais volte a acontecer. A data se tornou feriado nacional em 2006, quando o feito comemorava 30 anos, ou seja, o vídeo mostra partes do trigésimo quinto aniversário.
Enquanto aproximadamente 150 mil pessoas se calavam diante de uma única voz na flecha do coração de Buenos Aires, o Obelisco, outra centena de milhares juntavam suas vozes para se fazerem fortes, erguiam suas bandeiras e caminhavam juntos. Cada um com sua dor: a dor da perda de um filho, da perda de um marido, da de um amigo, de um direito. Estavam todos os cem mil ali, marchando pelos trinta mil desaparecidos que o regime deixou de herança. Peronistas e antiperonistas, torcedores do boca e do river, esquerdistas e direitistas, ricos e pobres, crianças e velhos, todos nesta noite se juntam aos movimentos conseqüentes do golpe, como las madres de mayo e nuevo encontro, para mostrar que ainda se lembram e que a mancha de sangue secou, escureceu, não sumiu e nunca sumirá.
O dia seria de alegria para mim por ter visto pessoas na rua cantando, espantando seus males, confirmando o ditado. Mesmo sendo um dia de relembrar o que muitos gostariam de esquecer. Seria de alegria também por sentir cada pelo saltar em cada poro dos meus braços e ficar arrepiado por mais de 3 horas consecutivas diante de Plácido Domingo. Mas mesmo assim, quis ficar triste para solidarizar com um povo que recebe tão bem e tem tanto respeito pelos brasileiros. Mas eles mesmos não estavam tristes. Então, como já disse em outra ocasião, aprendi com eles que o remédio pra tristeza é a alegria.  


domingo, 27 de março de 2011

És Nosotros.

Por ainda sermos os filhos, imaginamos que, no período de gestação, a escolha do nome seja a segunda coisa a ser feita, e talvez a primeira depois da descoberta do sexo. Descobrimos então o sexo: blog! Restava-nos o nome. Poucas idéias foram jogadas na mesa de plástico branco que refletia o sol intenso na nossa varanda até que, quase escorregando, surgiu o És Nosotros.
Quase escorregando porque o objetivo é sério: compartilhar nossa experiência e nossa busca e fazer dessa partilha um instrumento de incentivo, de motivação a nós mesmos.  És Nosotros seria a tradução literal para o espanhol de É Nóis.
O blog é formado por três pessoas distintas, de objetivos distintos, mas que dividem o mesmo teto:
 Danilo é formado em jornalismo, é co-fundador de um grupo de teatro amador surgido há 10 anos, está a um passo de terminar sua pós-graduação em cinema documentário pela FGV, e a outro de começar seu mestrado em cinema e teatro latino-americano e argentino pela Universidade Federal de Buenos Aires. Ganha a vida ensinando português para os hermanos, o que o faz escolher sempre os produtos mais baratos na prateleira do supermercado.
Monique é formada em História pela tão adorada e criticada Universidade do Vale do Sapucaí, professora de inglês e esta em Buenos Aires cursando no momento algumas matérias em letras para fazer o mestrado em Literatura Espanhola e Latinoamericana pela Universidade Federal de Buenos Aires. Aqui , na terra dos deliciosos vinhos e empanadas, trabalha em uma agência que recebe estudantes brasileiros que procuram a forma européia de estudos adotada pelas Universidades argentinas. A única alma feminina residente no apartamento da rua Estados Unidos 828.
Thales estudante de publicidade e propaganda no Brasil, veio a Buenos Aires para dar continuidade em seus estudos empreendedores, não obstante, em contato com a cultura portenha, descobriu que seu real talento estava direcionado a gastronomia. Matriculado no Instituto Gastronômico internacional, será nosso vínculo principal com a mesa e os ingredientes que alimentam os argentinos. Hoje se sustenta com pequenos depósitos brasileiros, advindos de seu seguro desemprego em fase terminal.
Este espaço foi criado, dentre inúmeros motivos, para que sejam compartilhadas nossas experiências sérias e cômicas na terra dos Pampas. Teremos dias de vídeos, fotos e textos sérios e dias com outros materiais descontraídos, curiosos e informais. Teremos dias de sol, dias de chuva, dias com pássaros e dias com dragões. Fiquem a vontade para entrarem em nosso blog para compartilhar interesses vindos do Brasil, Argentina ou qualquer outro lugar onde as idéias estejam sendo continuamente criadas e desenvolvidas, desde que deixem os sapatos do lado da porta quando entrarem!
Bienvenidos al És Nosotros !!!!!